Muita gente está levantando a hipótese de o fim da Gazeta Mercantil ser mais um sinal do fim da imprensa impressa. Colaborou o fato de o megainvestidor Rupert Murdoch, dono da News Corp., ter afirmado na mesma semana do fim da GZM que não haverá mais jornais impressos em 15 anos. No Brasil, o Civita disse algo similar alguns meses atrás sobre as revistas da Abril.
Bem, não sou ninguém para contestar esses caras. Só que, vendo o caso da GZM de dentro, acho importante ponderar que a sua descontinuidade nada tem a ver com o fim dos jornais impressos.
A Gazeta era um veículo (bastante) lucrativo atualmente. Havia otimizado custos de impressão. Tinha uma equipe menor que a do Valor Econômico, mas fazia um jornal de qualidade. Para os anunciantes também não era bom pensar em um mercado quase monopolista do Valor, como o que a GZM tinha nos anos 90, quando cobrava os olhos da cara por seu espaço.
O problema da GZM vem do passado, de antes de a internet ser considerada uma ameaça. Má gestão simples e pura, que gerou um passivo impagável. Mas hoje, era um bom negócio. O problema é que a maior parte das receitas era automaticamente bloqueada para pagar as dívidas. Quando viu esses bloqueios se estenderem para suas outras empresas, o atual arrendatário da marca, Nelson Tanure, decidiu rescindir o contrato e devolvê-la ao dono anterior. Não sei se vai funcionar, mas é um compreensível ato de desespero.
Agora deve começar a disputa judicial entre os dois, com a marca GZM como uma batata quente sendo jogada de um colo para o outro. Só depois de essa história ter sido resolvida – e das dívidas terem sido pagas – é que a Gazeta Mercantil poderá voltar a circular, na minha opinião. Se isso demorar menos de 15 anos, pelas contas de Murdoch, talvez ainda vejamos a velha Gazeta nas bancas novamente. Porque ela acabou, hoje, mostrando que ainda é possível fazer um jornal rentável.
Um comentário:
Dizer que a mídia impressa está morta etc e tals é sempre o caminho mais fácil. Difícil é admitir que por muitos anos a imprensa foi boa em dar conselhos e fiscalizar... os outros. Casa de ferreiro, espeto de pau.
Postar um comentário