quarta-feira, 24 de junho de 2009

Nokia e Siemens venderam o mais sofisticado sistema de vigilância eletrônica do Irã

O Irã possui uma das mais avançadas tecnologias de controle de comunicações. O país monitora (e censura) conversas de telefone e todo tipo de troca de dados pela internet. Com a ajuda de empresas europeias, o governo criou um sistema tão eficiente que é capaz de analisar e armazenar massivas quantidades de informações. E mais, possui tecnologia para uma análise profunda de pacotes de dados (deep packet inspection), o que na prática permite até alterar esses pacotes.

Na internet, por exemplo, mais do que bloquear o acesso a determinadas páginas, o governo pode criar informações que confundam seus opositores. Em um e-mail é possível que agentes do governo alterarem o conteúdo antes de chegar a um destinatário. Mensagens de SMS também poderiam ser mudadas. Nem as informações postadas em redes sociais como Facebook e Twitter escapam.

O mais desapontador foi descobrir que uma das empresas responsáveis pela tecnologia é a Nokia, em uma parceria com a Siemens AG. As empresas confirmaram sua participação ao jornal Wall Street Journal (aqui). "Se você vende redes, você também, intrinsicamente, vende a capacidade de interceptar qualquer comunicação que passe por elas", disse Ben Roome, porta-voz do consórcio entre a Nokia e Siemens AG.

O sistema de monitoramento ainda não era plenamente usado pelo governo do Irã. Mas desde o início das manifestações contra as fraudes nas eleições presidenciais, a tecnologia passou a ser aplicada em grande escala.

As empresas justificaram a venda da tecnologia ao Irã. "Acreditamos que prover as pessoas, independentemente de quem sejam, com a capacidade de se comunicarem é melhor do que deixá-las sem a capacidade de serem ouvidas", disse Ben Roome. Um argumento questinável, já que se ninguém vendesse um equipamento moderno, estariam disponíveis apenas os antiquados, capazes apenas de mandar e receber dados.

Empresas americanas, por exemplo, são proibidas de negociar com o governo iraniano. Os Estados Unidos impuseram um embargo, com sanções econômicas ao Irã, após a Revolução que aconteceu no país, nos anos 50.

Para Siemens, uma empresa às voltas com denúncias de corrupção é até mais compreensível a posição. Mas a Nokia!!! Se como eu, você é fã da empresa por sua inovação e aparelhos que tanto facilitam a comunicação, provavelmente deve estar sentindo o mesmo desconforto. E mais, a Finlândia, sede da Nokia, por muitos anos esteve sob o domínio (e tirania) da ditadura comunista da União Soviética. Mas como os iranianos estão mostrando, nunca é tarde para mudar. Certo Nokia?

No vídeo abaixo, a jovem Leda, morta em uma manifestação no Irã

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