quinta-feira, 16 de abril de 2009

Mulheres com pelos (e Roy Orbison)

Uma das experiências mais curiosas que já vivi foi morar na casa de uma família canadense. Pai, mãe, duas crianças e cinco gatos. De esquerda, cultos, inteligentes, agradáveis e amáveis - me refiro aos pais, os gatos pareciam mais preocupados em dormir do que criticar a invasão do Iraque; e os filhos, de três e cinco anos, ambos vegetarianos, divertiam-se brincando com o macarrão e legumes que comiam diariamente.

Esta família representava perfeitamente o estereótipo liberal hippie/moderno/alternativo. A mãe era quem de fato mandava na casa. Sempre achei que isso tinha relação com o fato dela ter mais pêlos na perna do que o marido (e eu). Para mim, pêlos atestam uma irrefutável masculinidade. Mas provavelmente depilação não é algo muito liberal, apenas mais uma convenção. E não seria aquela mulher que se renderia a qualquer convenção. Além de tudo, ela é cientista com PhD em vida marinha de lagos. Nem todo o racionalismo crítico de Karl Popper faria com que ela se rendesse e voltasse atrás em alguma de suas crenças.

Certa vez questionei o pai da razão pela qual seus filhos eram vegetarianos, já que ser vegetariano não é uma tarefa fácil para adultos, o que dizer para uma criança cercada por balas, doces e refrigerantes - alimentos proibidos, assim como qualquer tipo de carne carne, na dieta da família. Fiquei surpreso com a resposta que ouvi: “Por que a mãe é vegetariana”, ele me disse. O tom de voz com que falou era pacato, sem mudança no ritmo ou volume. Era como alguém ao fazer uma constatação óbvia do tipo: um dia todos morrem. Não havia rancor, dúvida ou irritação.

Naquele momento, entendi porque, escondidos na cozinha, lado a lado, comíamos deliciosos hambúrgueres de carne bovina. Naquele momento percebi que um homem em sã consciência sabe que não deve perder tempo discutindo com uma mulher sobre o que ela realmente acredita. Principalmente se essa mulher tiver mais pêlos na perna do que ele.


Em homenagem a todas as mulheres, depiladas ou não...

Pretty Woman, com Roy Orbison





ROY ORBISON, O CARUSO DO ROCK

Talvez você nunca tenha ouvido falar de Roy Orbison e só conheça a música do filme "Uma Linda Mulher", com Julia Roberts no papel de uma prostituta que conquista o milionário interpretado Richard Gere.

Mas Roy Orbison é um dos grandes nomes do rock. Ele começou no Sun Studios, como Elvis Presley e Johnny Cash. Mas ele não tinha a beleza física de Elvis nem a atitude de Cash. Orbison, com sua miopia e óculos fundo de garrafa, parece mais um desses personagens freak de um filme de David Lynch atrás do balcão de um bar com uma jukebox tocando rock dos anos 50. Isso talvez explique um pouco a razão de Orbison não ser tão celebrado como seus colegas Elvis e Cash - e leve-se em conta que ele também não teve sua história levada ao cinema nos mesmos moldes de Cash. Em 1999, foi lançado o documentário da TV pública PBS "In Dreams: The Roy Orbison Story", com depoimentos de Cash, Bono, George Harrison, Elvis Costello e do próprio Orbison entre outros músicos.

Como disse a revista Rolling Stone, Orbison "expandiu as limitações dos arranjos do rock e abriu a porta para Phil Spector e Freddie Mercury". Orbison popularizou letras chorosas e meladas que fariam até mesmo o robô Hall do filme 2001 derramar lágrimas de emoção. O roqueiro com sua voz de barítono deu um rumo para o rock no início dos anos 60, quando todos ainda buscavam um caminho para o "novo" estilo que deixava para trás os anos do rockabilly. Orbison, a exemplo de Caruso, ao cantar tem o dom transformar a tristeza em beleza.

Crying, abaixo, é um exemplo de levar o mais duro dos mortais às lágrimas.



Crying

I was all right for a while
I could smile for a while
But I saw you last night
You held my hand so tight
As you stopped to say, "Hello"
Oh, you wished me well
You couldn't tell
That I'd been crying over you
Crying over you
When you said, "So long"
Left me standing all alone
Alone and crying, crying
Crying, crying

It's hard to understand
But the touch of your hand
Can start me crying
I thought that I was over you
But it's true, so true
I love you even more
Than I did before
But, darling, what can I do?
For you don't love me
And I'll always be crying over you
Crying over you

Yes, now you're gone
And, from this moment on
I'll be crying, crying
Crying, crying
Yeah, crying, crying
Over you

Nenhum comentário: